O livro como personagem


Achei este livro numa visita a um sebo, apesar de já tê-lo visto nesses sites de livraria virtual como lançamento ou entre os mais vendidos , sinceramente , não lembro e não dei muita importância pela resenha publicada. O que me chamou a atenção na hora da compra foi a capa mesmo, independentemente da menção ao prêmio Pulitzer da autora.

Em princípio, pensei até que poderia ser uma história na linha pós-guerra, pois se refere a um manuscrito de Sarajevo. Ainda estou na página 204 de 384, mas já recomendo a leitura , em especial pra quem gosta de uma história além da história.

Estou achando muito legal essa coisa de ter as narrativas, se assim posso dizer, em paralelo.

Tem a história da Hanna, um tipo de profissional altamente especializada em conservação de livros raros, que já traz essa tarefa de preservar o livro enquanto objeto, que eu sempre tive uma certa curiosidade e respeito. Ela é chamada para trabalhar na restauração de uma Hagadá, que segundo a narrativa , é um conjunto de pergaminhos de origem judaica ricamente ornamentados e que possívelmente resiste a vários séculos de histórias de lutas e perseguições. A Hanna vai logo colocando uma informação adicional que eu nunca tinha pensado: não basta preservar o objeto para futuras consultas ou como peça museológica, há que respeitar a história físico-química que a peça traz em si. E é aí que as coisas ficam interessantes.

A Hagadá é um personagem com sua própria aventura rica em tramas, suspense e perigos. A cada episódio, ela vai guardando em seu corpo marcas como uma nova escritura disponível para quem souber decifrar esses signos narrativos. Neste caso, Hanna reconhece os signos , mas só a nós leitores é permitido a decifração, pois a cada descoberta sobre a matéria livro que Hanna faz , a narrativa nos permite conhecer o que gerou aquela marca, aquele resíduo, mancha, fragmento e todas as pistas que a conservadora vai coletando durante a restauração, só que ela mesmo pode apenas conjecturar sobre suas procedências e possibilidades.

Com certeza , mesmo antes de chegar ao fim da leitura, este já está na minha lista de preferidos.

Ref.: Brooks, Geraldine. As Memórias do Livro. SP: Ediouro, 2008.

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