A infinita capacidade de fabular
Minha tia está a poucos meses de completar 90 anos. Há muito convivemos na mesma casa e aos poucos, fomos perdendo membros da nossa família. Falo em pessoas do nosso tronco mais próximo. Eu perdi mãe, pai, avós, tios. Ela, mãe, irmãs e marido. Ficamos as duas, num jogo de resta um. Nos últimos tempos, as circunstâncias nos tornaram reclusas em casa. Então, somos nós em tempo integral. Ao contrário do que muita gente pensa, não é um problema pra mim. É uma possibilidade de aprendizado, como quase tudo que me aconteceu na vida. É a minha forma particular de superar seja o que for: entendendo. De uns tempos pra cá venho pondo mais atenção numa habilidade da titia, que não é recente, mas tem sido evidenciada por razões óbvias. Ela fabula situações. Explico. Ela discorre sobre fatos, em sua maioria autênticos. O interessante é que quando paramos pra ouvir a história percebemos que pode ser que, apesar de o enredo estar coerente, o desenvolvimento tem um que de ficção. Essa percepção se